Quilombos do Médio Paraíba se reúnem em Valença para celebrar ancestralidade e reivindicar direitos

O 1º Encontro de Quilombos do Médio Paraíba, realizado no Centro Cultural Nação Mestiça, em Valença, marcou um momento histórico para a cultura afro-brasileira na região. O evento, que aconteceu ao longo de dois dias, reuniu mestres de cultura, lideranças quilombolas, representantes do poder público e autoridades culturais em uma programação dedicada à valorização das tradições e à escuta ativa das demandas das comunidades.

Com rodas de conversa, oficinas, apresentações culturais e depoimentos emocionantes, o encontro proporcionou uma troca intensa de saberes e reafirmou a luta dos povos quilombolas por reconhecimento, visibilidade e políticas públicas efetivas.

Vozes que ecoaram resistência

Mestres de diversas cidades trouxeram relatos marcantes. Mestre Tota, do Comitê de Cultura do Vale do Café e organizador do evento, destacou a importância de dar espaço aos quilombos que, muitas vezes, só são lembrados em datas comemorativas. Ele pontuou os avanços conquistados com os fomentos federais, mas reforçou a necessidade de mais apoio e capacitação para os fazedores de cultura.

Mestre Cosme, de Barra do Piraí, falou sobre a dificuldade de manter o Jongo ativo na cidade por falta de espaço físico adequado. Mestre Almir e Cida, do Quilombo São José da Serra — o maior do estado —, pediram apoio para transporte, especialmente para o grupo de Jongo e as crianças da comunidade. “Nosso quilombo está esquecido. Precisamos ser vistos e ouvidos”, afirmou Cida.

Já Mestre Edigar, de Cachoeira do Arrozal, alertou para o risco de a cultura do Jongo desaparecer por falta de oficinas voltadas às novas gerações. E Mestre Marisco, de Angra dos Reis, emocionou o público ao lembrar o legado de Mestre Toninho Canecão e refletir sobre a dimensão da luta negra além da cultura popular.

Lenda do Baobá e conexão ancestral

Um dos momentos mais simbólicos foi a partilha da lenda do Baobá durante a oficina de Jongo, conduzida por Mestres Marisco e Cosme. A árvore sagrada africana foi apresentada como símbolo de resistência e ancestralidade, reforçando a importância de manter viva a memória dos antepassados.

Participação de autoridades

Mãe Lilian, Ialorixá, falou sobre a relevância dos quilombos para a preservação da cultura afro. A presidente do Conselho de Cultura de Valença, Mariana Ferraz, defendeu a criação de um mapeamento das comunidades e uma rede de apoio estruturada entre elas. Já Thaís Sobreira, do Coletivo de Mulheres Negras, destacou a vulnerabilidade das mães quilombolas e a urgência de políticas específicas.

O secretário de Cultura e Turismo de Valença, Antônio Carlos, reconheceu a importância do Quilombo São José e se comprometeu a estreitar laços com a comunidade. “Política pública vai muito além de leis de incentivo. O gabinete está de portas abertas”, afirmou. Edu Nascimento, representante do Ministério da Cultura, reforçou o compromisso do governo federal com o fortalecimento das culturas tradicionais.

Celebrações, oficinas e futuro

No domingo, as atividades se encerraram com oficinas de Capoeira, Jongo e o batizado dos alunos da Nação Mestiça. A cerimônia de encerramento foi marcada pela apresentação da Folia de Reis, que levou fé e emoção ao palco.

A estudante Suellen, do projeto Vitória Régia, resumiu o sentimento de muitos participantes: “Essa experiência é muito rica. Nossa cultura precisa ser valorizada, e a Nação Mestiça está aqui para isso: levar cultura ao povo”.

Realização

O evento foi promovido pelo Centro Cultural Nação Mestiça, em parceria com o Instituto Floresta, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Ministério da Cultura e Governo Federal.

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