Quanto tempo você gasta no trânsito para chegar ao trabalho? Em Volta Redonda, essa pergunta vai muito além da curiosidade e revela um dos atuais desafios enfrentados diariamente pelos moradores: o tempo perdido nos congestionamentos.
Nos últimos 25 anos, a frota de veículos na cidade disparou. Em 2000, havia cerca de 65 mil registrados. Em 2025, esse número ultrapassa os 150 mil veículos, um crescimento de mais de 130%, enquanto a população aumentou aproximadamente 15%, passando de 242 mil para quase 280 mil habitantes, segundo dados do IBGE.
O resultado desse descompasso entre crescimento urbano e infraestrutura viária é sentido nas ruas: congestionamentos diários, especialmente nos horários de pico, transformam pequenos trajetos em longas jornadas.
A Avenida Almirante Adalberto de Barros Nunes, mais conhecida como Beira Rio, é um dos pontos mais sensíveis ao trânsito, com relatos de lentidão constante, agravados por obras emergenciais ou de revitalização. A Avenida dos Trabalhadores, especialmente nas imediações da Vila Santa Cecília, é outro ponto crítico, frequentemente afetado por congestionamentos.

Trânsito intenso na Via Sérgio Braga, na Ponte Alta. Foto: Arquivo
A Via Sérgio Braga, no bairro Ponte Alta, também é conhecida por ser um dos pontos mais congestionados de Volta Redonda. Motoristas que trafegam diariamente pela via, que liga a cidade à Barra Mansa, relatam a necessidade de paciência devido ao tráfego intenso, especialmente nos horários de pico. A BR-393 (Rodovia Lúcio Meira) tem circulação quase sempre comprometida pelo excesso de veículos, especialmente na região dos bairros Dom Bosco, Água Limpa e Jardim Amália.
Dados mais recentes do Detran-RJ revelam que, entre 2021 e abril de 2025, a frota de veículos em Volta Redonda cresceu 7,6%, passando de 155.755 para 167.527. No mesmo período, o estado do Rio de Janeiro registrou um aumento de 9,7% em sua frota. Apesar de a taxa de crescimento municipal ser inferior à estadual, o número absoluto de veículos em circulação na cidade segue pressionando a malha viária urbana, já saturada.
Para enfrentar esse cenário, o Detran afirma desenvolver ações educativas contínuas, com foco na conscientização sobre o uso excessivo de automóveis e seus impactos ambientais e sociais. “Durante todo o ano, agentes da Coordenadoria de Educação distribuem materiais educativos e realizam ações em ruas, escolas e instituições, explicando a importância do uso consciente dos automóveis para um trânsito seguro e saudável a todos”, diz o órgão, em nota enviada à reportagem.
Poucas alternativas de tráfego
Com vasta experiência no campo do planejamento urbano, o engenheiro civil e professor do UniFOA José Marcos Rodrigues Filho, o Zito, analisa o problema como resultado de um descompasso claro entre a expansão da frota e a capacidade da cidade de adaptar sua infraestrutura viária. “Volta Redonda cresceu significativamente nas últimas décadas, tanto em população quanto em número de veículos. Enquanto a população aumentou cerca de 15%, a frota teve um salto superior a 130%. Isso pressiona a malha urbana, que tem vias limitadas e poucas alternativas de tráfego”, explica o professor.
Zito destaca ainda que, por ser um polo regional, Volta Redonda atrai diariamente motoristas de cidades vizinhas, o que amplia o volume de veículos em circulação, especialmente nos acessos a áreas comerciais e de serviços, como o bairro Aterrado e a Vila Santa Cecília.
Para Zito, uma reorganização do espaço urbano é urgente. Entre as soluções, ele propõe a criação de corredores exclusivos para ônibus, a implantação de vias expressas e investimentos em infraestrutura para modais alternativos, como ciclovias seguras. Segundo estudos preliminares, a cidade poderia ter até 18 km de ciclovias, o que incentivaria o uso da bicicleta como transporte diário. “Além disso, precisamos de políticas públicas que fortaleçam novas centralidades urbanas, descentralizando o acesso a serviços, comércio e lazer. Isso pode reduzir a necessidade de grandes deslocamentos e, por consequência, o trânsito intenso”, afirma.
O professor também defende a implantação de sistemas de transporte de média capacidade, como o BRT (Bus Rapid Transit) ou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), conectando regiões de alta demanda com tarifas acessíveis e frequência adequada.

Sobre o futuro, Zito é direto: a cidade precisa se planejar melhor. Ele cita como avanço a previsão de obras como novos viadutos, uma nova ponte sobre o Rio Paraíba do Sul e a construção de corredores de ônibus, além da revisão do Plano Diretor Municipal, que será iniciada em breve. “A revisão do Plano Diretor é uma oportunidade de ouro. Com participação da sociedade e de instituições como o UniFOA, podemos pensar em uma Volta Redonda mais inclusiva, acessível e eficiente, com foco no transporte público sustentável e no desenho universal”, conclui. Enquanto essas soluções estruturais não são implementadas, o cenário é de paciência no volante e perda de tempo nas ruas.